Há quem ainda não tenha superado as ideias modernistas e pregue o alargamento de vias, a construção de viadutos e o asfaltamento massivo. Esses vivem a velha ilusão da liberdade baseada na posse de um veículo automotor. Ainda não perceberam que um cenário onde cada cidadão possua um carro é inviável, tanto do ponto de vista global quanto no que diz respeito à boa forma das cidades.
Em um nível de maturidade um pouco mais elevado estão aqueles que perceberam que o excesso de veículos individuais é um problema a ser enfrentado. Esses costumam culpar os governantes e o parco investimento nos sistemas públicos de transporte coletivo. Resistem a tornarem-se usuários desses sistemas, alegando que a qualidade dos serviços é baixa. Não notam que as coisas só vão mudar quando usuários mais influentes passarem a exigir melhorias.
A análise do problema começa a ficar interessante quando começamos a julgar os interesses que estão em jogo na definição da agenda política de mobilidade urbana. Indústrias, transportadores, construtores e outros lobbies têm um papel importante na priorização dos investimentos estatais.
A falta de cultura política da sociedade civil brasileira faz com a visão do cidadão comum, sem maiores compromissos com agendas econômicas específicas, não seja representada nos processos decisórios.
Uma visão ainda mais ampla da questão dá conta da chamada cultura automobilística. Trata-se de um valor da nossa sociedade que tem impacto em muitos hábitos e decisões. Desde o trabalhador informal, que abandona o ônibus para comprar uma motocicleta assim que a oportunidade bate à porta, até o ministro,
que decide reduzir o imposto sobre os veículos individuais como forma de aumentar o giro da economia. Todos temos um pouquinho de gasolina no sangue.
Fonte: http://thecityfixbrasil.com/2011/09/28/as-origens-do-problema/